sexta-feira, 16 de agosto de 2013

As duas agendas de Eduardo Paes





Há algum tempo, ouvi uma frase do Eduardo Paes que me deixou com a pulga atrás da orelha:  a famosa "tenho duas agendas", em que o prefeito dizia que tinha uma prioridade para o subúrbio e outra para a zona sul, como se  fossem duas cidades distintas que não fizessem parte do mesmo tecido urbano.
Ao ser perguntado certa vez se andaria de BRT ele respondeu: "Eu sou prefeito, tenho carro, eu fiz isso aí pra pobre".
O prefeito adora colocar nas suas frases termos para desqualificar e rotular as coisas e as pessoas, como se tivesse necessidade de organizar a cidade em patamares sociais em que para cada um tem um tipo de comportamento administrativo diferente.
Essa postura demonstra, primeiro de tudo, um claro desprezo à pluralidade social do Rio de Janeiro, aspecto que o torna único entre as cidades brasileiras, e é sua característica marcante.
Um exemplo foi dado na entrevista para a Band News quando ele diz que o "burguês" pode pagar plano de saúde e escola particular,  enquanto o "pobre" tem que se contentar com a escola pública, demonstrando um desprezo pelo processo educacional, que tem que ser  igualitário para todas classes sociais.  Ao fazer tal distinção, Paes  reforça seus próprios conceitos racistas e de determinismo social,  considerando a educação apenas como um serviço utilitário, sem nenhuma contrapartida pedagógica, ou principalmente, de enriquecimento pessoal através do estudo.
O prefeito coloca a cidade dentro de um projeto administrativo que visa apenas o lucro e a otimização de resultados, descartando-se o fator humano, como se para os "pobres" a melhor coisa a fazer fosse desumanizá-los, para não ter que olhar para seus dramas cotidianos, tais como o transporte, lazer, saúde e educação.
O prefeito não tem interesse em entender a cidade e seus problemas, ele criou um conjunto de soluções que só ele sabe a quem atende, soluções dadas de cima pra baixo, sem ouvir a população, que quando se manifesta contra algum ato, a reclamação é logo desqualificada como sendo "ato político da oposição".
Toda a crítica dirigida a ele é mal recebida, porque o prefeito se coloca como um grande administrador, quando na verdade não passa de um gerentinho de obras prontas, que quando é chamado para resolver problemas,  ouve, mas não acata, e quando o faz é sob forte pressão da opinião pública e da mídia.
O prefeito, ao ser entrevistado seja por quem for, tenta desqualificar seu interlocutor dizendo que ele é igual ao entrevistado, colocando-o no mesmo patamar sócio-econômico-cultural  e oposto ao povo. É como se ele dissesse: "o que você está fazendo aí lutando por uma causa que não te afeta? Fique do meu lado e esqueça esses pobres aí".
Talvez ele seja o pior prefeito em todos os tempos da nossa cidade, não pelo que fez, o que já é muito ruim, mas pelo que pensa, e, principalmente, por tentar mudar a cidade de uma forma que não está melhorando-a, mas sim desfigurando-a de forma irremediável.